Batata frita e sorvete podem viciar tanto quanto cocaína e cigarro, diz estudo

Alimentos ultraprocessados, como batata frita e sorvete, são tão viciantes quanto a nicotina do cigarro ou drogas como cocaína e heroína, diz estudo publicado na última segunda (9/10), no periódico científico The BMJ. Além disso, os cientistas descobriram que 14% das pessoas são viciadas nesses alimentos.

Para chegar a esses resultados alarmantes, pesquisadores analisaram 281 estudos realizados em 36 países.

O consumo de ultraprocessados, que incluem ainda salsichas, biscoitos, refrigerantes e cereais açucarados, já foi associado ao declínio cognitivo, ao câncer, a problemas psicológicos e até à morte precoce.

O estudo atual é liderado pela pesquisadora Ashley Gearhardt, da Universidade de Michigan, nos EUA, que criou a Escala de Dependência Alimentar de Yale, usando os mesmos critérios do diagnóstico de vício em substâncias psicoativas, como consumo incontrolável e excessivo e desejos e ingestão contínua.

“A combinação de açúcares refinados e gorduras frequentemente encontradas em alimentos ultraprocessados parece ter um efeito nos sistemas de recompensa cerebral acima de qualquer macronutriente isoladamente, o que pode aumentar o potencial viciante desses produtos”, dizem os autores do estudo, citados pelo jornal americano New York Post.

A razão exata para uma pessoa ficar dependente de um alimento ultraprocessado ainda é um mistério para os cientistas. Mas alguns acreditam que pode não ser culpa de um único ingrediente, como açúcar ou gordura, como ocorre com a nicotina do tabaco, e sim, devido a múltiplos fatores.

Como explicam os especialistas, alimentos de origem natural costumam ter mais carboidratos ou gorduras, mas não em níveis tão desproporcionais quanto dos ultraprocessados.

Se uma maçã tem 55 kcal provenientes de carboidratos e menos de 2 kcal de gordura, uma barra de chocolate tem 237 kcal de carboidratos e 266 kcal de gordura.

Pesquisas anteriores também demonstraram que alimentos ricos em açúcar e gordura tornam menos atraentes os produtos mais saudáveis, gerando uma reprogramação cerebral que pode ter consequências para a saúde, como excesso de peso.

Comer ultraprocessados desencadeia uma onda de dopamina (hormônio do humor) seguida por uma queda repentina, resultando em um ciclo interminável de desejo – semelhante ao de alguém viciado em álcool ou drogas.

O estudo recém-divulgado revela ainda que nem todos podem ser suscetíveis às qualidades viciantes dos alimentos ultraprocessados – alguns podem comer um punhado de batatas fritas e ficar satisfeitos, enquanto outros podem não ter tanta sorte.