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Alimentação

Beber muito leite não causa doenças cardiometabólicas, afirmam cientistas

Por João Paulo Martins  em 03 de junho de 2021

Pesquisa descobriu que pessoas com gene especializado na quebra do açúcar do leite apresentam menos colesterol e menor risco de doença arterial coronária

Beber muito leite não causa doenças cardiometabólicas, afirmam cientistas
(Foto: Freepik)

Estudo publicado no dia 24 de maio no periódico científico International Journal of Obesity revela que, ao contrário do que muita gente pensa, beber leite regularmente não aumenta os níveis de colesterol e, portanto, não está associado a problemas cardiometabólicos. Desde que você não seja intolerante à lactose, claro.

A pesquisa analisou três grandes estudos populacionais e descobriu que as pessoas que bebiam regularmente grandes quantidades de leite tinham níveis mais baixos de colesterol (tanto o bom, ou HDL, quanto o ruim, o LDL) embora os índices de massa corporal (IMC’s) fossem mais altos do que aqueles que não consumiam a bebida.

Além disso, os cientistas analisaram outros grandes estudos e descobriram que aqueles que consumiam leite com frequência tinham um risco 14% menor de doença arterial coronariana.

Análise leva em conta genética

A equipe de pesquisadores fez uma abordagem genética para o consumo de leite, ou seja, descobriram uma variação no gene associado à lactase, enzima responsável pela quebra do açúcar do leite, conhecido como lactose.

O estudo identificou que as pessoas com essa variante genética são capazes de digerir a lactose de forma mais eficiente, permitindo o maior consumo de leite e, consequentemente, adquirindo os supostos benefícios.

“Descobrimos que os participantes com a variação genética estavam associados à maior ingestão de leite, com IMC e gordura corporal mais elevados, mas, com níveis mais baixos de colesterol bom e mau. Também descobrimos que aqueles com variação genética tinham risco significativamente mais baixo de doença coronariana. Tudo isso sugere que a redução da ingestão de leite pode não ser necessária para prevenir doenças cardiovasculares”, explica o pesquisador Vimal Karani, da Universidade de Reading, no Reino Unido, um dos autores do estudo, citado pelo site de notícias de ciência Science Daily.

A nova pesquisa surge após várias análises contraditórias que investigaram a ligação causal entre a maior ingestão de laticínios e doenças cardiometabólicas, como obesidade e diabetes. Os cientistas levaram em conta o tamanho da amostra, a etnia e outros fatores, na meta-análise de dados de até 1,9 milhão de pessoas, mas usaram a abordagem genética para evitar confusão.

Embora os dados do UK Biobank, do Reino Unido, tenham mostrado que aqueles com a variação genética da lactase tinham 11% menos risco de diabetes tipo 2, o estudo não descobriu qualquer evidência forte que ligue a maior ingestão de leite à maior probabilidade de diabetes ou doenças relacionadas.

“O estudo certamente mostra que o consumo de leite não é um problema significativo para o risco de doenças cardiovasculares, embora tenha havido um pequeno aumento no IMC e na gordura corporal. O que observamos no estudo é que ainda não está claro se é a gordura contida nos laticínios que está contribuindo para os níveis mais baixos de colesterol ou é devido a um ‘fator do desconhecido’ do leite”, afirma Vimal Karani, citado pelo Science Daily.