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Alimentação

Natto: soja fermentada pode desativar o coronavírus, diz estudo

Por João Paulo Martins  em 25 de julho de 2021

Teste com células humanas mostra que o alimento básico do Japão (e repulsivo para muita gente) possui a capacidade de inativar a proteína do SARS-CoV-2

Natto: soja fermentada pode desativar o coronavírus, diz estudo
O natto é produzido por meio da fermentação da soja usando a bactéria Bacillus subtilis (Foto: iStock)

Já ouviu falar no natto, um tipo de soja fermentada de aparência “gosmenta”, que é muito comum no Japão? Cientistas descobriram que esse alimento pode ser um aliado no combate à covid-19.

Não é à toa que os japoneses possuem a maior expectativa de vida do planeta, com mais de 25% da população acima de 65 anos. A alimentação é a principal forma de manter o corpo saudável e o natto sempre foi considerado um alimento básico no Japão e associado à menor probabilidade de morrer de acidente vascular cerebral ou doença cardiovascular, segundo o site americano de notícias científicas EurekAlert.

No estudo publicado dia 13 de julho na revista científica Biochemical and Biophysical Research Communications, cientistas revelam que a guloseima pegajosa e de cheiro forte pode inibir a capacidade do novo coronavírus (SARS-CoV-2) de infectar as células humanas.

“Tradicionalmente, os japoneses presumem que o natto seja benéfico para a saúde. Nos últimos anos, pesquisas revelaram evidências científicas para essa crença. Em nosso estudo, investigamos os efeitos antivirais do natto para o SARS-CoV-2 e para o herpesvírus bovino 1 [BHV-1], que causa doenças respiratórias no gado”, explica o pesquisador Tetsuya Mizutani, da Universidade de Agricultura e Tecnologia de Tóquio, no Japão, um dos autores do estudo, citado pelo EurekAlert.

Teste do natto em células

Para quem não sabe, o natto é obtido pela fermentação da soja usando a bactéria Bacillus subtilis, encontrada na planta e no solo. No estudo recente, os pesquisadores prepararam dois extratos de natto, um aquecido e natural. Eles aplicaram os alimentos em conjuntos de células bovinas e humanas cultivadas em laboratório. Um conjunto estava infectado com SARS-CoV-2, enquanto o outro estava com BHV-1.

Quando tratados com o extrato de natto em temperatura ambiente, o SARS-CoV-2 e o BHV-1 perderam a capacidade de infectar as células. No entanto, nenhum dos vírus pareceu ser afetado pelo extrato aquecido.

“Nós descobrimos o que parece ser uma protease [proteína que metaboliza outras proteínas] no extrato de natto ‘digere’ o receptor da proteína spike [usada na infecção] no SARS-CoV-2”, comenta Mizutani, citado pelo site especialziado, observando que a protease parece se decompor no calor, perdendo a capacidade de digerir proteínas, o que não afeta o vírus.

A proteína spike fica na superfície do coronavírus e se liga a um receptor nas células hospedeiras. Com a inativação dessa proteína, o SARS-CoV-2 não pode infectar células saudáveis. Os pesquisadores descobriram um efeito semelhante no herpesvírus bovino 1.

Os cientistas perceberam o mesmo efeito na variante Alpha do novo coronavírus, revela o EurekAlert.

Embora os resultados sejam promissores, os pesquisadores alertam que mais estudos são necessários para identificar os mecanismos moleculares responsáveis pela ação do natto. Além, disso, o estudo não fornece evidência de redução na infecção viral simplesmente pela ingestão da soja fermentada.

Uma vez que os componentes sejam identificados e suas funções verificadas, os pesquisadores planejam avançar para testes clínicos em modelos animais, informa o site americano.