Bem-Estar
É necessário consumir dois litros ou oito copos de água por dia?
Entenda como a ingestão do líquido da vida é essencial para a manutenção do nosso organismo, e como a quantidade a ser consumida depende de alguns fatores
Apesar de nosso corpo ser constituído por até 70% de água, a quantidade desse líquido que deve ser ingerida por dia ainda deixa muita gente em dúvida. Devemos beber dois litros de água diariamente? O excesso pode fazer mal à saúde?
“Por ser tão crítica para a vida, há processos fisiológicos que controlam de forma estrita o balanço de sal e água no organismo. De forma simplificada, para manter a quantidade de água do nosso corpo é preciso repor as perdas”, comenta o professor Eduardo Barbosa Coelho, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da Universidade de São Paulo (USP), citado pelo site da instituição.
Segundo ele, a água é essencial para o organismo, realizando tarefas como transporte de nutrientes e oxigênio pela corrente sanguínea, manutenção do equilíbrio eletrolítico (sais minerais), regulamentação da temperatura corporal e é vital para a excreção de substâncias tóxicas pela urina e fezes. “A água é tão crítica para a vida que se você perder mais que 4% da água corporal total os sintomas de desidratação irão surgir e, se houver uma perda maior que 15%, pode ser fatal”, afirma o professor.
As perdas do líquido ocorrem de três maneiras: produção de secreções (saliva, suco gástrico e suor, por exemplo), respiração e na urina e nas fezes. Por isso a reposição constante é essencial para nossa saúde. Mas quanto devemos tomar de água por dia?
Um estudo de 2002 publicado na revista científica American Journal of Physiology analisou a recomendação de ingestão de oito copos de água diariamente. A conclusão foi que não há evidência suficiente para confirmar essa quantidade e que beber menos de oito copos não resultou em danos à saúde dos voluntários.
“Não há um valor ‘normal’ ou recomendável para se ingerir ao dia. Geralmente, para um adulto numa dieta normoproteica padrão, cerca de um a 1,5 litro de água será suficiente para manter o balanço hídrico. Porém, esse valor dependerá do metabolismo individual, da idade, da distribuição de gordura corporal, das condições ambientais, da atividade física e de outros fatores que afetam a perda de água. Há uma ideia generalizada de que consumir água faz bem à saúde. Como descrito acima, há mecanismos fisiológicos para a manutenção de um equilíbrio hídrico e caso haja falta de água a sede aparecerá”, explica Eduardo Coelho ao Jornal da USP.
Sede ou desidratação?
O mecanismo da sede é o principal alerta do corpo em relação à desidratação. O hábito de beber água regularmente só se faz necessário, do ponto de vista biológico, quando há a indicação de que o corpo está começando a ficar desidratado, ou seja, quando a sede aparece. "Habitualmente já ingerimos mais do que o suficiente – quando comemos ou bebemos outros tipos de líquidos –, e se por qualquer motivo deixarmos de fazê-lo, o mecanismo da sede nos obrigará a corrigir eventuais desequilíbrios. A sede é uma espécie de rede de proteção que garante que as perdas de água nunca superem os ganhos, evitando assim que o indivíduo se desidrate”, explica o professor Roberto Zatz, também da FMRP da USP.
Para realizar o controle da perda de água, os rins entram em ação. Eles são capazes de modificar a concentração da urina por meio da alteração da quantidade de água livre eliminada. Normalmente podemos eliminar de 150 ml de urina por dia, em condições de extrema perda ou ingestão insuficiente, a 20 l em situações de abundância de líquidos e nutrientes.
Zatz explica que o hormônio antidiurético (ADH), conhecido também como vasopressina, é outro mecanismo usado na regulação da urina. Ele é produzido na glândula hipófise.
Já em relação ao excesso de consumo de água, ele é considerado perigoso. Segundo Eduardo Coelho, os rins são capazes de eliminar excessos do líquido, o que permite uma ingestão máxima superior a 15 litros (cerca de 60 copos) por dia. “Isso significa que, em geral, beber mais líquidos do que o necessário não causa grandes problemas. No entanto, existem algumas situações de intoxicação hídrica, uma espécie de ‘overdose de água’. Essa condição pode resultar de um consumo superior a 15 litros por dia ou de uma ingestão tão rápida, por exemplo, cinco litros em meia hora, que não há tempo para que os rins eliminem o excesso. Um acúmulo excessivo de água no organismo causa diluição de solutos e, em consequência, edema [inchaço] cerebral e um quadro neurológico grave que pode ter desfecho fatal”.
A ingestão de água, do ponto de vista biológico, depende de diversos fatores individuais que, juntos, modificam a quantidade necessária a ser ingerida. Mas, mesmo não havendo um valor predeterminado, seu consumo é importante. “Água é a essência da vida e, por esse motivo, nosso organismo está preparado para conservá-la. Manter a saúde é aprender a ouvir o que o seu corpo fala. Consuma a água que precisa e evite os excessos. Uma forma simples de saber se você está ingerindo pouca água é olhar a sua urina. Se ela estiver bem alaranjada e em pouca quantidade, é provável que esteja concentrada e uma pausa para hidratação seja recomendável”, comenta Coelho.
(Com Jornal da USP)