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Cientistas confirmam que bactéria é capaz de comer o plástico que contamina os oceanos

Por João Paulo Martins  em 24 de janeiro de 2023

Em testes realizados em laboratório, a bactéria Rhodococcus ruber digeriu plástico e o transformou em CO² e outras substâncias inofensivas

Cientistas confirmam que bactéria é capaz de comer o plástico que contamina os oceanos
(Foto: Pixabay)

 

Estimativas apontam que, pelo menos, 14 milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos todos os anos, mas cientistas ainda não sabem dizer o que acontece com esse perigoso agente poluidor. Agora, em estudo publicado na edição de janeiro de 2023 da revista científica Marine Pollution Bulletin, pesquisadores revelam que as bactérias podem estar ajudando a natureza a se livrar do plástico no ambiente marinho.

O estudo é liderado pelo Instituto Real de Pesquisa Oceânica dos Países Baixos e descobriu que a bactéria Rhodococcus ruber é capaz de digerir plástico, transformando-o em dióxido de carbono (CO²) e outras substâncias inofensivas.

“Esta é a primeira vez que provamos que as bactérias realmente digerem o plástico em CO² e outras moléculas. Certamente não é uma solução para o problema das ilhas de plástico em nossos oceanos. No entanto, é uma parte da resposta para a questão ‘onde foi parar todo o plástico que falta nos oceanos?’”, comenta a pesquisadora Maaike Goudriaan, citada pelo jornal britânico The Telegraph.

Na pesquisa recente, foram realizados experimentos em laboratório com bactérias que vivem na água do mar comendo plástico que recebeu luz ultravioleta, imitando os efeitos da radiação solar.

Como explica o jornal, a luz solar é conhecida por quebrar o plástico em pedaços minúsculos que são mais fáceis de serem absorvidos pelas bactérias.

Os cientistas acreditam que apenas a Rhodococcus ruber seria capaz de quebrar cerca de 1% do plástico dos oceanos em um ano. Com isso, teoricamente, ela poderia ser usada para ajudar a acabar com esse contaminante dos mares. Porém isso exigiria “quantidades exageradas” da bactéria e, consequentemente, teríamos um aumento alarmante na produção de dióxido de carbono, o que seria prejudicial para o planeta.

Um estudo de 2017 da Universidade de Utrecht, na Holanda, descobriu que cerca de 196 milhões de toneladas de plástico podem ter se depositado no fundo dos oceanos desde 1950.

O The Telegraph lembra que uma missão submarina de mergulho profundo em 2019 encontrou um saco plástico dentro da Fossa das Marianas, a uma profundidade incrível de 10.975 m.

A bactéria Rhodococcus ruber é encontrada em todo o mundo e abundante no solo, água e ambientes marinhos. A espécie foi escolhida para os testes porque é conhecida por transformar uma série de poluentes nocivos, incluindo produtos químicos industriais e pesticidas, em moléculas inofensivas.

Depois de conseguir provar a capacidade do micro-organismo nos testes de laboratório, os cientistas pretendem descobrir se as bactérias que vivem no ambiente também comem plástico. Essa fase já começou com experimentos-piloto nos quais sedimentos foram coletados no fundo do mar de Wadden, no Atlântico Norte, entre a Dinamarca e os Países Baixos.

“Os primeiros resultados desses experimentos sugerem que o plástico está sendo degradado, mesmo na natureza. Eu vejo isso como uma peça do quebra-cabeça ligado ao desaparecimento do plástico nos oceanos. Se você tentar rastrear todos os nossos resíduos, falta muito plástico”, diz Maaike Goudriaan, citada pelo jornal britânico.

Na verdade, essa digestão das bactérias pode fornecer apenas parte da explicação. “Você espera calcular quanto plástico nos oceanos realmente é degradado por bactérias. Mas muito melhor do que limpar, é prevenir. E só nós humanos podemos fazer isso”, sugere a pesquisadora holandesa.

Além dos micro-organismos, a luz solar está desempenha papel importante na quebra de microplásticos na água marinha. Os pesquisadores estimam que cerca de 2% do plástico visivelmente flutuante pode desaparecer da superfície do oceano todos os anos devido à ação solar.