Ciência
Cientistas criam “vacina” contra doenças autoimunes que não paralisa o sistema imunológico
Nova terapia pode reverter condições como esclerose múltipla, diabetes tipo 1 e doença de Crohn, sem “desligar” o sistema imunológico
Pesquisadores da Universidade de Chicago, nos EUA, testaram com sucesso, em laboratório, um novo tipo de vacina que pode reverter doenças autoimunes como esclerose múltipla, diabetes tipo 1 e doença de Crohn, sem “desligar” o sistema imunológico.
Normalmente, um imunizante atua “ensinando” o organismo a reconhecer vírus e bactérias como inimigos que devem ser combatidos. A nova “vacina” faz exatamente o oposto: remove do sistema imunológico a memória de determinada molécula. Embora o ato de apagar a memória imunológica seja indesejado para doenças infecciosas, pode ser eficaz para interromper condições autoimunes, como esclerose múltipla, diabetes tipo I, artrite reumatoide e doença de Crohn, nas quais o organismo ataca tecidos saudáveis.
O estudo que apresenta essa nova “vacina” foi publicado na última quinta (7/9), no periódico científico Nature Biomedical Engineering. Segundo o site de notícias médicas Medical Xpress, a terapia inovadora aproveita o mecanismo no qual o fígado sinaliza o sistema imunológico para “não atacar” as moléculas de células que morrem naturalmente. Isso é uma forma de o corpo prevenir reações autoimunes a essas células.
Para criar a “vacina”, os cientistas combinaram um antígeno (molécula que é alvo do sistema imune) com um fragmento de célula morta que o fígado reconheceria como sendo “amiga”. Nos testes em laboratório, esse tratamento foi capaz de interromper com sucesso a reação autoimune associada a uma doença semelhante à esclerose múltipla.
Nesse caso, como mostra o site especializado, os pesquisadores se concentraram no ataque do sistema imunológico à mielina, estrutura do neurônio, que causa fraqueza e dormência, perda de visão e, eventualmente, problemas de mobilidade e paralisia. A equipe testou o efeito da nova “vacina”. Eles descobriram que o sistema imunológico parou de atacar a mielina, permitindo que os nervos voltassem a funcionar corretamente e revertendo os sintomas da doença nas cobaias.
Hoje, as doenças autoimunes são geralmente tratadas com medicamentos que desativam de forma total o sistema imunológico. Apesar de eficazes, esses remédios bloqueiam as respostas imunológicas necessárias para combater infecções, causando efeitos colaterais indesejáveis.
Ainda são necessárias novas pesquisas da “vacina” inovadora. Porém, de acordo com o Medical Xpress, ensaios de segurança de fase I já foram realizados em pessoas com doença celíaca (associada à ingestão de trigo, cevada e centeio) e estão em andamento testes do mesmo tipo em pacientes com esclerose múltipla.