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Cientistas descobrem a refeição mais antiga da história, com mais de 550 milhões de anos

Por João Paulo Martins  em 27 de novembro de 2022

Os vestígios de alimentos foram encontrados em fósseis de uma espécie marinha ancestral conhecida como Kimberella

Cientistas descobrem a refeição mais antiga da história, com mais de 550 milhões de anos
Fóssil de uma criatura parecida com lesma marítima, chamada Kimberella, foi datada com mais de 550 milhões de anos (Foto: Ilya Bobrovskiy/GFZ-Potsdam/Divulgação)

 

Cientistas acabam de identificar a “refeição mais antiga” de um ser vivo que passou pela Terra. O achado foi datado de mais de 550 milhões de anos e publicado na revista científica Current Biology, na última terça (22/11).

Como mostra o jornal britânico The Guardian, os pesquisadores analisaram fósseis antigos da biota ediacarana – formas de vida que existiram entre 538,8 milhões e 635 milhões de anos atrás – e dizem ter encontrado a evidência mais antiga de alimentos consumidos por animais.

Fósseis de uma criatura parecida com uma lesma marinha conhecida como Kimberella continham compostos que sugeriam que ela comia algas e bactérias do fundo do oceano – não exatamente uma refeição farta, mas um sinal de que o animal tinha boca e intestino e digeria a comida da mesma forma que alguns invertebrados modernos.

Segundo o pesquisador Jochen Brocks, da Universidade Nacional Australiana, um dos autores do estudo, citado pelo jornal britânico, os fósseis do período Ediacarano são “alguns dos mais importantes da evolução porque é a primeira vez que a vida se tornou grande. Eles são os maiores e mais antigos fósseis que você pode ver com os olhos”.

A Kimberella, uma criatura simétrica que também podia se mover, era um animal avançado para a época, sugerem os pesquisadores.

“Ter um intestino é algo muito moderno. Esponjas, corais e águas-vivas [por exemplo], não têm intestino tradicional, que percorre todo o corpo”, completa Brocks ao The Guardian.

 

Cientistas descobrem a refeição mais antiga da história, com mais de 550 milhões de anos
Fóssil de Dickinsonia, que possui estrutura bem menos evoluída (Foto: Ilya Bobrovskiy/GFZ-Potsdam/Divulgação)

 

Ele conta que o fóssil recém-descoberto exibe intestino e era capaz de absorver ativamente a molécula de gordura (colesterol) e rejeitar outras não necessárias.

Os cientistas compararam o vestígio fossilizado da Kimberella ao de outro tipo de animal, chamado Dickinsonia, e descobriram que essa segunda criatura era bem menos avançada, sem boca ou intestino.

Para Jochen Brocks, a Dickinsonia era uma espécie de “tapete” com nervuras que ficava parado no fundo do mar, chegando a até 1,4 m de comprimento e absorvendo comida pela pele.

O The Guardian explica que esses fósseis foram coletados em 2018, em penhascos próximos do Mar Branco, no noroeste da Rússia, pelo pesquisador alemão Ilya Bobrovskiy, do Centro Alemão de Pesquisas em Geociências (GFZ-Potsdam), outro autor do estudo.

O estudo recém-divulgado sugere que a biota ediacarana já continha algumas das criaturas que deram origem à “explosão de espécies" do período Cambriano, quando surgiram muitos dos animais modernos. Essa fase também é conhecida como “big bang biológico”, ocorrido há cerca de 538,8 milhões de anos, quando quase todos os principais grupos de animais começaram a aparecer no registro fóssil.