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Cientistas descobrem como as rãs de vidro conseguem ficar transparentes

Por João Paulo Martins  em 03 de janeiro de 2023

Anfíbios comuns nas florestas das Américas Central e do Sul são capazes de "esconder" os glóbulos vermelhos, deixando o corpo translúcido

Cientistas descobrem como as rãs de vidro conseguem ficar transparentes
Quando dorme, a rã de vidro reduz em quase 100% os glóbulos vermelhos disponíveis, ficando translúcida (Foto: Carlos Taboada, Jesse Delia et ali./Science/Reprodução)

 

Nativas das florestas das Américas Central e do Sul, as rãs de vidro da família Centrolenidae recebem esse nome por possuírem a pele e os músculos translúcidos, ajudando os anfíbios a se misturarem perfeitamente ao ambiente da selva. Quando se fotografa ou filma por baixo da rã em repouso, é possível ver, de forma impressionante, o coração, fígado e o intestino espiralado.

Em estudo publicado em 22 de dezembro de 2022 na revista científica Science, pesquisadores descobriram o mecanismo responsável por deixar esses animais quase totalmente transparentes.

Quando as rãs de vidro da espécie Hyalinobatrachium fleishmanni vão dormir, elas retiram 96,6% dos glóbulos vermelhos em circulação no sangue e depositam em bolsas revestidas de cristal no fígado, capazes de refletir a luz, informa a revista americana National Geographic. Com isso, os anfíbios parecerem quase invisíveis. Sem o componente que fornece a cor ao sangue, as rãs de vidro se tornam duas a três vezes mais translúcidas. Esse truque, segundo os cientistas, deve ajudar os animais a evitar predadores.

“A transparência é rara e muito difícil de se conseguir, porque nossos tecidos estão cheios de coisas que absorvem e espalham a luz. Os glóbulos vermelhos também absorvem muita luz, e descobrimos que o sapo pode realmente escondê-los, colocando-os no fígado”, comenta o pesquisador Jesse Delia, do Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque (EUA), um dos autores do estudo, citado pela revista.

Embora o truque da rã de vidro seja tão impressionante que pode ser visto a olho nu, entender como ele funciona exigiu uma técnica de imagem conhecida como microscopia fotoacústica.

“Quando os pigmentos absorvem a luz, parte da luminosidade que é absorvida produz calor. Esse calor cria uma mudança local na pressão, que cria ondas sonoras. Isso acontece ao redor da rã constantemente. Tudo o que absorve luz, em teoria, também gera ondas sonoras”, explica o pesquisador Carlos Taboada, Universidade Duke (EUA), principal autor do estudo, também citado pela National Geographic.

Nos testes em laboratório, os cientistas usaram exames por imagem em rãs de vidro de fleischmanni, como a espectroscopia óptica, que permitiu à equipe medir quanto a transparência aumenta durante o sono, enquanto a técnica de microscopia fotoacústica identificou os glóbulos vermelhos depois que eles desapareceram dentro do fígado.