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Cientistas descobrem que derretimento da parte submersa da geleira "do fim do mundo" não está acelerado

Por João Paulo Martins  em 23 de fevereiro de 2023

A descoberta foi possível graças a um robô que cruzou um buraco de 600 m de profundidade para chegar à região submersa da plataforma de gelo da Antártida

Cientistas descobrem que derretimento da parte submersa da geleira "do fim do mundo" não está acelerado
O robô Icefin ajudou os cientistas a entenderem a estrutura da geleira Thwaites (Foto: Lawrence Schmidt/Nasa/ PStar Rise Up/Divulgação)

 

Cientistas descobriram que o descongelamento da geleira Thwaites, mais conhecida como “geleira do fim do mundo”, que fica na porção ocidental da Antártida, parece ser causado por diferentes processos que ocorrem abaixo da plataforma flutuante de gelo. Segundo o site americano EurekAlert, as análises recentes mostram que, embora o derretimento abaixo da geleira seja mais lento do que o esperado, a perda de gelo nas rachaduras e fendas é muito mais acelerado.

Em estudos publicados em 15 de fevereiro deste ano na revista científica Nature, é possível entender as mudanças que ocorrem sob a geleira, que é do tamanho da Grã-Bretanha ou do estado americano da Flórida e um dos sistemas de gelo-oceano que mais sofrem alterações na Antártida. Os resultados revelam que, embora o derretimento tenha aumentado abaixo da plataforma flutuante de gelo, a taxa atual é mais lenta do que sugeriam modelos computacionais mais recentes.

Uma camada de água doce entre o fundo da plataforma de gelo e o oceano diminui a taxa de derretimento ao longo das partes planas da geleira, revela o site americano. Mas os cientistas ficaram surpresos ao ver que o derretimento formou uma topografia semelhante a uma escada no fundo da plataforma de gelo. Nessas áreas, assim como nas rachaduras, está ocorrendo um rápido degelo.

A geleira Thwaites é uma das que mudam mais rapidamente na Antártida. Sua zona de aterramento – o ponto onde encontra o fundo do mar – recuou 14 km desde o fim dos anos 1990. Grande parte da camada de gelo está abaixo do nível do mar e é suscetível às mudanças climáticas, gerando derretimento irreversível que pode elevar o nível dos oceanos em cerca de 50 cm dentro de alguns séculos, explica o ErurekAlert.

Os novos dados foram coletados como parte do projeto MELT, que faz parte da Colaboração Internacional Thwaites Glacier Reino Unido-EUA. A equipe realizou observações inéditas da linha de aterramento sob a plataforma de gelo oriental de Thwaites, por meio do robô chamado Icefin.

O pesquisador Peter Davis, que faz parte do British Antarctic Survey (Pesquisa Britânica na Antártida), fez as medições por meio de um poço de 600 m de profundidade a cerca de dois quilômetros da linha de aterramento. O buraco foi perfurado em 2019 com uma broca de jato de água quente. Os novos cálculos foram comparados a observações da taxa de degelo feitas em cinco outros locais debaixo da plataforma de gelo. Durante nove meses, o oceano perto da linha de aterramento tornou-se mais quente e salgado, mas a taxa de derretimento na base de gelo foi em média de dois a cinco metros por ano, menos do que o estimado anteriormente.

“Nossos resultados são uma surpresa, mas a geleira ainda está com problemas. Se uma plataforma estiver em equilíbrio, o gelo que sai do continente corresponderá à quantidade que se perde por meio do derretimento e da desintegração do iceberg. O que descobrimos é que, apesar de pequenas quantidades de degelo, ainda há um rápido recuo da geleira, então parece que não é preciso muito para desequilibrar a geleira”, comenta Peter Davis, citado pelo site americano.

O robô Icefin mergulhou no poço de 600 m e foi projetado para acessar zonas de aterramento que antes eram quase impossíveis de serem pesquisadas. As observações feitas pelo veículo remotamente operado no fundo do mar e ao redor da zona de aterramento fornecem mais detalhes sobre como o derretimento varia sob a plataforma de gelo da Thwaites. Eles descobriram que as áreas chamadas de escadas, assim como as fendas na base de gelo estão derretendo rapidamente. Esse fenômeno é ainda mais relevante nas fendas, pois quando a água passa por elas, o calor e o sal podem ser transferidos para o gelo, alargando os espaços.

Embora o degelo ao longo da base da plataforma tenha sido menor do que o esperado, o derretimento nessas rachaduras e escadas é muito maior e pode ser um fator significativo na perda de gelo da Thwaites.