Ciência
Cientistas transformam aranha morta em “garra robótica”
Usando mecanismo hidráulico, pesquisadores fizeram com que uma aranha-da-grama morta fosse capaz de carregar componentes frágeis
Quando a estudante de engenharia mecânica Faye Yap, da Universidade Rice, dos EUA, viu uma aranha morta retraída no corredor, logo pensou que poderia usá-la para construir uma ferramenta robótica.
Transformar aranhas mortas em garras mecânicas pode parecer um pesadelo para certas pessoas, especialmente quem tem aracnofobia, mas até tem seus “benefícios”. As pernas do aracnídeo podem agarrar objetos grandes, delicados e de formato irregular com firmeza e suavidade sem quebrá-los, revela o site americano Science Alert.
Em estudo publicado na última segunda (25/7), no periódico científico Advanced Science, os cientistas descobriram uma maneira de fazer as pernas de uma aranha-da-grama (Lycosa erythrognatha) morta se desenrolarem e agarrarem objetos. Eles chamaram esse novo sistema biônico “necrobótica”.
Segundo o site americano, nas pernas desses aracnídeos, os músculos são atuam estendendo e retraindo, mas de forma parecida com a força hidráulica. As aranhas-da-grama usam o cefalotórax, que se contrai, enviando fluido corporal interno para as pernas, fazendo com que se estendam.
A equipe da Universidade Rice inseriu uma agulha no cefalotórax e criou uma vedação ao redor da ponta da agulha com uma bola de supercola. Ao apertar o êmbolo da seringa foi suficiente para ativar as pernas da aranha, alcançando uma amplitude de movimento completa em menos de um segundo.
“Pegamos a aranha, colocamos a agulha nela sem saber o que ia acontecer. Tínhamos a noção de onde queríamos colocar a agulha. E quando colocamos, funcionou, logo de cara. Eu nem sei como descrever”, comenta Faye Yap, citada pelo Science Alert.
A equipe conseguiu fazer com que a aranha morta agarrasse uma pequena bola. Ao analisar esse experimento, foi determinada uma força de preensão máxima de 0,35 millinewtons. Os cientistas demonstraram que dá para usar uma aranha morta para pegar objetos e componentes eletrônicos delicados.
Curiosamente, a aranha-da-grama “biônica” foi capaz até de suportar o peso de outra aranha do mesmo tamanho.
O Science Alert explica que, como esses aracnídeos estendem as pernas por meio da pressão hidráulica gerada pelo cefalotórax, quando morrem, o sistema hidráulico deixa de funcionar. Os músculos flexores das pernas entram em rigor mortis, mas, como trabalham apenas em uma direção, a aranha morta se enrola.
“O conceito de necrobótica proposto neste trabalho tira proveito de designs únicos criados pela natureza que podem ser complicados ou até impossíveis de replicar artificialmente”, dizem os pesquisadores no estudo.
As aranhas também são biodegradáveis, portanto, usá-las como biocomponentes reduziria a quantidade de resíduos da robótica.