Ciência
Colonização do espaço pode levar os humanos ao canibalismo, afirma cientista
Astrobiólogo britânico diz ao jornal Metro que situações adversas em outros planetas podem levar os humanos a ações extremas, inclusive comer uns aos outros
Cientistas alertam que os humanos podem virar canibais se as colheitas não derem certo em futuras missões de colonização do espaço. Em entrevista à versão britânica do jornal Metro, dois especialistas falam sobre desafios e oportunidades que a ida a outros planetas oferece à nossa espécie.
Descartando a possibilidade de a humanidade se mover para a maioria dos planetas em nosso Sistema Solar, já que suas superfícies são inabitáveis, os cientistas citam as luas Calisto, de Júpiter, e Titã, de Netuno, como destinos possíveis.
Mas, antes de nos aventurar para esses dois satélites naturais, os especialistas sugerem que colônias de teste em Marte ou em nossa própria Lua – onde ainda seria possível enviar suprimentos da Terra com relativa facilidade se surgissem problemas inesperados.
Aliás, a escassez de alimentos, as doenças e a incapacidade de se tornar autossuficiente são as principais ameaças para qualquer colônia distante, porque a ajuda de casa demoraria anos, alertam os cientistas ao Metro.
O astrobiólogo Charles Cockell, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, diz que a possibilidade de nosso planeta se tornar inabitável por causa da crise climática não é uma razão forte o suficiente para pensarmos em colônias extraterrestres.
Em vez disso, ele acredita que é sensato espalhar a nossa espécie pelo Universo como uma “apólice de seguro” contra a extinção, brincando que os dinossauros sumiram porque “não tinham um programa espacial”.
“Os sistemas têm que ser realmente confiáveis e é por isso que precisam ser testados antes. Isso é baseado em situações históricas. A tripulação de Franklin [capitão sir John Franklin] tentou encontrar a passagem noroeste [para a Ásia] em navios no século XIX [em 1845], que eram as peças de tecnologia mais sofisticadas da época. Eles tinham comida enlatada, que era uma novidade e, ainda assim, se perderam, encalharam e acabaram no canibalismo”, conta Cockell ao Metro.
Ele salienta que, mesmo com a melhor tecnologia, comunidades humanas isoladas podem se degenerar muito rapidamente.
“Se você colocar um grupo de pessoas em Calisto e as coisas começam a dar errado e o módulo de crescimento das plantas quebra, eles vão comer uns aos outros se não houver outra maneira de sobreviver”, completa o astrobiólogo.
O antropólogo Cameron Smith, da Universidade Estadual de Portland (EUA), especialista em evolução humana, também ao jornal britânico, concorda que o abastecimento de alimentos é uma questão fundamental.
“Uma das primeiras coisas que eles teriam que fazer é estabelecer um sistema de cultivo realmente bom e conseguir uma grande quantidade de comida armazenada”, afirma o cientista.
No entanto, ele tem menos certeza de que os humanos “comeriam uns aos outros” se tudo desse errado – sugerindo que exemplos históricos mostram que nossa espécie pode reagir positiva ou negativamente a condições desafiadoras.
Smith cita ao Metro o exemplo do time de futebol uruguaio que sofreu um acidente aéreo em 1972. Os sobreviventes se voltaram para o canibalismo mas consumiram apenas partes dos que já haviam morrido.
Para o antropólogo americano, qualquer quebra de ordem poderia ser evitada pelo estabelecimento de regras pré-acordadas a serem seguidas no caso de situações adversas ocorrerem.
Ainda assim, Cameron Smith é menos otimista sobre a rapidez com que os humanos poderiam viver no espaço do que o Charles Cockell.
O britânico acredita que é “inevitável” em algum momento daqui a 30 ou 40 anos teremos colônias em Marte para, após outros 100 anos, chegarmos a Calisto.
O americano concorda que definir uma linha do tempo é difícil, mas estima que qualquer tentativa de colonização espacial só deve ocorrer no final deste século – acrescentando que levaria “60 anos ou mais” para uma colônia se tornar totalmente autossustentável.