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Ciência

Colonização do espaço pode levar os humanos ao canibalismo, afirma cientista

Por João Paulo Martins  em 03 de janeiro de 2022

Astrobiólogo britânico diz ao jornal Metro que situações adversas em outros planetas podem levar os humanos a ações extremas, inclusive comer uns aos outros

Colonização do espaço pode levar os humanos ao canibalismo, afirma cientista
Cena de Perdido em Marte (2015): astronauta vivido por Matt Damon consegue plantar batata no Planeta Vermelho (Foto: 20th Century Fox/Reprodução)

 

Cientistas alertam que os humanos podem virar canibais se as colheitas não derem certo em futuras missões de colonização do espaço. Em entrevista à versão britânica do jornal Metro, dois especialistas falam sobre desafios e oportunidades que a ida a outros planetas oferece à nossa espécie.

Descartando a possibilidade de a humanidade se mover para a maioria dos planetas em nosso Sistema Solar, já que suas superfícies são inabitáveis, os cientistas citam as luas Calisto, de Júpiter, e Titã, de Netuno, como destinos possíveis.

Mas, antes de nos aventurar para esses dois satélites naturais, os especialistas sugerem que colônias de teste em Marte ou em nossa própria Lua – onde ainda seria possível enviar suprimentos da Terra com relativa facilidade se surgissem problemas inesperados.

Aliás, a escassez de alimentos, as doenças e a incapacidade de se tornar autossuficiente são as principais ameaças para qualquer colônia distante, porque a ajuda de casa demoraria anos, alertam os cientistas ao Metro.

O astrobiólogo Charles Cockell, da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, diz que a possibilidade de nosso planeta se tornar inabitável por causa da crise climática não é uma razão forte o suficiente para pensarmos em colônias extraterrestres.

Em vez disso, ele acredita que é sensato espalhar a nossa espécie pelo Universo como uma “apólice de seguro” contra a extinção, brincando que os dinossauros sumiram porque “não tinham um programa espacial”.

“Os sistemas têm que ser realmente confiáveis e é por isso que precisam ser testados antes. Isso é baseado em situações históricas. A tripulação de Franklin [capitão sir John Franklin] tentou encontrar a passagem noroeste [para a Ásia] em navios no século XIX [em 1845], que eram as peças de tecnologia mais sofisticadas da época. Eles tinham comida enlatada, que era uma novidade e, ainda assim, se perderam, encalharam e acabaram no canibalismo”, conta Cockell ao Metro.

 

 

Ele salienta que, mesmo com a melhor tecnologia, comunidades humanas isoladas podem se degenerar muito rapidamente.

“Se você colocar um grupo de pessoas em Calisto e as coisas começam a dar errado e o módulo de crescimento das plantas quebra, eles vão comer uns aos outros se não houver outra maneira de sobreviver”, completa o astrobiólogo.

O antropólogo Cameron Smith, da Universidade Estadual de Portland (EUA), especialista em evolução humana, também ao jornal britânico, concorda que o abastecimento de alimentos é uma questão fundamental.

“Uma das primeiras coisas que eles teriam que fazer é estabelecer um sistema de cultivo realmente bom e conseguir uma grande quantidade de comida armazenada”, afirma o cientista.

No entanto, ele tem menos certeza de que os humanos “comeriam uns aos outros” se tudo desse errado – sugerindo que exemplos históricos mostram que nossa espécie pode reagir positiva ou negativamente a condições desafiadoras.

Smith cita ao Metro o exemplo do time de futebol uruguaio que sofreu um acidente aéreo em 1972. Os sobreviventes se voltaram para o canibalismo mas consumiram apenas partes dos que já haviam morrido.

 

 

Para o antropólogo americano, qualquer quebra de ordem poderia ser evitada pelo estabelecimento de regras pré-acordadas a serem seguidas no caso de situações adversas ocorrerem.

Ainda assim, Cameron Smith é menos otimista sobre a rapidez com que os humanos poderiam viver no espaço do que o Charles Cockell.

O britânico acredita que é “inevitável” em algum momento daqui a 30 ou 40 anos teremos colônias em Marte para, após outros 100 anos, chegarmos a Calisto.

O americano concorda que definir uma linha do tempo é difícil, mas estima que qualquer tentativa de colonização espacial só deve ocorrer no final deste século – acrescentando que levaria “60 anos ou mais” para uma colônia se tornar totalmente autossustentável.