Coronavírus causou uma epidemia na Ásia há 20.000 anos

Cientistas analisaram o genoma humano e descobriram que o coronavírus já causou uma epidemia no leste da Ásia há mais de 20.000 anos. Traços da infecção milenar causada pelo vírus ainda são evidentes na composição genética de quem vive nessa região, segundo estudo publicado na última quinta (24/6) na revista científica Current Biology.

“O genoma humano moderno contém informações evolutivas que remontam a dezenas de milhares de anos. É como estudar os anéis de uma árvore, que nos dá uma visão das condições que ela vivenciou enquanto crescia”, afirma o pesquisador Kirill Alexandrov, da Universidade de Queensland, na Austrália, um dos autores do estudo, citado pelo jornal britânico The Independent.

Os pesquisadores usaram dados do projeto 1.000 Genomes, o maior catálogo público de variação genética comum, para observar as mudanças nos códigos de DNA relacionadas às proteínas que interagem com o SARS-COV-2, o coronavírus causador da covid-19.

“Cientistas da computação aplicaram análises evolutivas ao conjunto de dados do genoma humano para descobrir evidências de que os ancestrais dos povos do Leste Asiático experimentaram uma epidemia de doença induzida por coronavírus semelhante à covid-19”, afirma Alexandrov ao periódico.

Há 20.000 anos, de acordo com os cientistas, as populações que foram afetadas pela infecção no Leste Asiático eram originárias das áreas que hoje englobam China, Japão, Mongólia, Coreias do Norte e do Sul e Taiwan.

“No decorrer da epidemia, a seleção natural favoreceu variantes de genes humanos relacionados à patogênese [como o vírus age no corpo e a resposta imunológica] com mudanças adaptativas, presumivelmente levando a uma doença menos grave”, conta o pesquisador da Universidade de Queensland ao The Independent.

Ele lembra que ao entender nossos antigos inimigos, ganhamos uma compreensão de como o DNA das diferentes populações humanas se adaptam aos micro-organismos.

“Outro desdobramento importante da pesquisa é a capacidade de identificar vírus que causaram epidemia no passado distante e podem causar no futuro. Isso, em princípio, nos permite compilar uma lista de vírus potencialmente perigosos e, em seguida, desenvolver diagnósticos, vacinas e medicamentos caso retornem”, completa Kirill Alexandrov.