Ciência
Espécie de lêmure canta música em ritmo usado por humanos
Estudo descobre que os Indri indri de Madagascar são capazes de usar andamento de dois tempos em suas canções
Durante 12 anos, a bióloga Chiara De Gregorio, da Universidade de Turim, na Itália, junto com outros colegas acordaram bem cedo para observar o lêmure cantante (Indri indri) nas florestas tropicais da ilha de Madagascar, na África.
Segundo a revista americana National Geographic, os cientistas descobriram que o primata que corre risco de extinção canta usando um tipo de ritmo, até então, identificado apenas em humanos e pássaros. É a primeira vez que outro mamífero é capaz de cantar com certo andamento entre as notas musicais.
“Indris são os únicos lêmures que se comunicam com canções”, diz De Gregorio, em entrevista ao periódico. Ela é a principal autora do estudo sobre esses lêmures que foi publicado nesta segunda (25/10) na revista científica Current Biology,
Os animais cantam para encontrar companheiros que se perderam, reivindicar trechos de floresta e até realizar “batalhas vocais” com vizinhos, explica a bióloga à National Geographic.
Claro que o ouvido humano não consegue distinguir os sons emitidos pelos lêmures cantantes, mas a pesquisa aponta a existência de padrões e durações de notas que se parecem com as encontradas em nossa música.
Para entender melhor por que as canções indri são especiais, você precisa saber um pouco sobre os blocos de construção da música.
Analisando a estrutura da música
Um estudo publicado em 2015 no jornal científico PNAS avaliou cerca de 300 obras musicais de todo o mundo e descobriu certas repetições. Os cientistas encontraram mais de 12 características comuns à música, incluindo o uso de tons específicos e repetição de frases.
Curiosamente, oito das características tinham a ver com ritmo. Como mostra a National Geographic, a música tende a se apoiar em compassos de um (60 batidas por minuto) ou dois tempos (120 batidas por minuto).
Um exemplo é dado pelo biomusicólogo Andrea Ravignani, do Instituto Max Planck de Psicolinguística, na Holanda, coautor do estudo, em conversa com a revista. Ele cita a canção We Will Rock You (1977), da banda britânica Queen, que usa dois tempos na famosa parte em que se ouve palmas e pisadas fortes no chão.
“Esse é um padrão rítmico muito comum na música humana”, comenta o especialista à National Geographic.
E também para os lêmures indri, conforme Andrea. Os primatas usam o compasso de dois tempos regularmente. Além disso, às vezes eles terminam as músicas com um floreio conhecido como ritardando, quando se diminui o andamento ou prolonga as últimas notas.
“Novamente, essa não é uma característica muito comum. A maioria dos animais segue um padrão ou não. O fato de os lêmures mudarem de andamento sugere uma flexibilidade impressionante”, esclarece o biomusicólogo à revista.