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Ciência

Estruturas capazes de gerar embriões humanos são criadas em laboratório

Por João Paulo Martins  em 18 de março de 2021

Estudo realizado na Austrália conseguiu criar blastocistos, que antecedem ao desenvolvimento embrionário, a partir de células da pele

Estruturas capazes de gerar embriões humanos são criadas em laboratório
Os iBlastoides são estrutural e geneticamente semelhantes aos blastocistos humanos, mas não são idênticos (Foto: Monash University/Divulgação)

Cientistas australianos conseguiram criar em laboratório estruturas vivas semelhantes à fase inicial do embrião humano a partir de células da pele. A ideia, segundo o estudo publicado na última quarta (17/3) na revista científica Nature, é entender a infertilidade, o aborto espontâneo e o desenvolvimento embrionário precoce sem o uso controverso de embriões humanos reais.

Anteriormente, o único meio de estudar o desenvolvimento inicial de embriões humanos era por meio de blastocistos obtidos na fertilização in vitro. Os blastocistos são um estágio inicial semelhante a uma bola de desenvolvimento embrionário que se forma cinco dias após a fertilização. Mas seu uso na ciência é controverso devido a seu potencial para crescer e se tornar um humano.

Agora, ao reprogramar fibroblastos, células de tecido conjuntivo retiradas de amostras de pele, cientistas da Universidade de Monash, em Melbourne, Austrália, criaram estruturas semelhantes a blastocistos humanos.

As estruturas, que a equipe chamou de iBlastoides, podem ser usadas para imitar as duas primeiras semanas de desenvolvimento do embrião humano.

Entenda a estrutura que imita o embrião

Os iBlastoides são estrutural e geneticamente semelhantes aos blastocistos humanos, mas não são idênticos. Por exemplo, eles não possuem a membrana que envolve o blastocisto antes de se implantar no útero.

“No momento, você não pode implantar o iBlastoide numa mulher e engravidá-la. Não vai se transformar num feto ou bebê porque está faltando algumas das partes estruturais mais importantes”, comenta o pesquisador Jason Limnios, da Universidade Bond, da Austrália, que não fez parte do estudo, em entrevista para o site científico New Scientist.

Na pesquisa recém-publicada, foi usada uma técnica chamada reprogramação nuclear para criar os iBlastoides. Cientistas australianos pegaram fibroblastos de doadores adultos e, ao alterar os genes das células, mudaram suas propriedades.

Quando colocadas numa estrutura 3D conhecida como matriz extracelular, as células se organizam espontaneamente em formas esféricas contendo camadas parecidas com as dos blastocistos humanos.

Os iBlastoides podem dar origem a células-tronco capazes de se autorrenovar e criar diferentes tipos de células do corpo. Portanto, podem ajudar no avanço da pesquisa sobre infertilidade, permitindo que os cientistas estudem o que acontece quando os embriões são expostos a toxinas ou vírus no início do desenvolvimento.