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Ciência

Exame de DNA comprova que ursos pardos e polares já acasalaram entre si no passado

Por João Paulo Martins  em 09 de junho de 2022

Após análise de DNA de um dente de urso polar de cerca de 150.000 anos, foi possível constatar a hibridização entre as duas espécies

Exame de DNA comprova que ursos pardos e polares já acasalaram entre si no passado
(Fotos: Pixabay)

 

Apesar de separados por uma distância significativa, ursos polares e pardos se relacionaram por muito tempo no passado, descobre estudo publicado na última segunda (6/6) na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.

De acordo com os cientistas, citados pela revista americana Newsweek, dados de DNA retirados de um dente de urso polar mostram que houve “pelo menos um evento antigo de introgressão [troca de genes] entre ursos pardos e ancestrais dos ursos polares, possivelmente datando de mais de 150.000 anos”.

Geneticamente, os ursos polares se desenvolveram para se adaptarem às condições geladas do Círculo Polar Ártico, como as orelhas pequenas, que minimizam a perda de calor. No entanto, ao longo dos anos, a população desses animais foi afetada por mudanças no clima. Como resultado, especialistas encontraram evidências de que ursos pardos, vindos do sul, acasalaram com os “parentes” da região polar, modificando a genética deles.

E à medida que as mudanças climáticas se intensificam, isso pode ocorrer novamente. Segundo a pesquisadora Charlotte Lindqvist, da Universidade de Buffalo, nos EUA, uma das autoras do estudo, em entrevista à Newsweek, não se tem certeza de quando as espécies começaram a cruzar depois de se separarem de um ancestral comum há mais de um milhão de anos.

 

Exame de DNA comprova que ursos pardos e polares já acasalaram entre si no passado
Análise de DNA retirado de um urso polar de cerca de 130.000 anos ajudou a comprovar a mistura entre as espécies (Karsten Sund/Natural History Museum Nhm/University of Oslo/Divulgação)

  

“Sabemos que eles ainda são capazes de acasalar hoje e podem produzir descendentes férteis, então eles podem ter acasalado desde que se separaram e quando as duas espécies entraram em contato novamente. Quanto mais antigo é um evento de acasalamento, mais difícil é para nós encontrar evidências dele nas populações atuais. No entanto, em nosso estudo, encontramos compartilhamento de DNA entre ursos pardos e polares modernos e que envolve um urso polar de 115.000 a 150.000 anos. Isso sugere que o acasalamento aconteceu antes dessa data”, explica a especialista à revista americana.

Ainda conforme Lindqvist, apesar de estar claro que as duas espécies podem acasalar e produzir descendentes férteis, há “várias razões” para que isso não tenha acontecido extensivamente nos últimos milênios. Uma delas é que suas áreas geográficas, em grande parte, não se encontram.

“Embora haja evidências de híbridos de urso pardo e polar nos últimos anos no Ártico canadense, a hibridização contemporânea parece escassa, possivelmente causada por preferências de acasalamento incomuns e atípicas de indivíduos selecionados”, afirma a pesquisadora.

No entanto, se as duas espécies começarem a manter contato mais constante, como resultado das mudanças climáticas que alteram seus habitats, Charlotte Lindqvist acredita que é provável que veremos mais cruzamentos entre as duas espécies. Isso poderia eventualmente resultar em espécies inteiramente novas.