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Ciência

Humanos poderiam ter veneno na saliva, diz estudo

Por João Paulo Martins  em 30 de março de 2021

Cientistas descobriram que os mamíferos possuem genes associados à produção de toxina nas cobras

Humanos poderiam ter veneno na saliva, diz estudo
(Foto: Pixabay)

Ratos e até seres humanos poderiam transformar a saliva em veneno, de acordo com estudo publicado em fevereiro no jornal científico PNAS.

Os cientistas descobriram que a base genética necessária para a produção de toxina na boca existe nos répteis e nos mamíferos. É a primeira evidência de uma ligação entre as glândulas de veneno nas cobras e as glândulas salivares dos mamíferos.

Realizada pela Universidade de Graduação de Okinawa, no Japão, e pela Universidade Nacional da Austrália, a pesquisa avaliou genes que interagem com os responsáveis pela produção de toxina.

Genes da víbora também em mamíferos?

Foram usadas glândulas de veneno da cobra habu (Protobothrops flavoviridis), encontrada em Taiwan e em outras partes da Ásia. Os pesquisadores identificaram cerca de 3.000 genes ligados ao veneno, observando que eles desempenham papéis importantes na proteção das células durante estresse causado pela produção excessiva de proteínas.

Parte do DNA de outros animais, incluindo cães, chimpanzés e humanos, também foram examinados e o estudo descobriu que eles tinham a própria versão desses genes que trabalham em parceria com os da produção de toxina.

Humanos com veneno na boca?

Os cientistas encontraram nos tecidos das glândulas salivares um padrão de atividade semelhante ao observado nas glândulas de veneno da cobra habu. Portanto, segundo eles, a produção de saliva nos mamíferos e as glândulas de veneno nas víboras compartilham um antigo gene funcional.

“Esta é a primeira evidência sólida para a teoria de que as glândulas de veneno evoluíram das glândulas salivares ancestrais. Enquanto as cobras evoluíam, incorporando muitas toxinas diferentes e aumentando o número de genes envolvidos na produção de veneno, mamíferos como os musaranhos produzem toxina simples muito semelhante à saliva”, afirma o pesquisador Agneesh Barua, da Universidade de Graduação de Okinawa, coautor do estudo, citado pelo site australiano Sky News.

Experimentos realizados na década de 1980 mostraram que camundongos machos “produzem compostos em sua saliva que são altamente tóxicos quando injetados em outros ratos”, de acordo com Barua.

“Se, sob certas condições ecológicas, ratos que produzem proteínas mais tóxicas na saliva forem bem-sucedidos em termos de reprodução, então, daqui a milhares de anos, poderemos encontrar roedores venenosos”, comenta o cientista, citado pelo site.