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Ciência

Manipulação genética pode corrigir ansiedade e dependência do álcool

Por João Paulo Martins  em 05 de maio de 2022

Estudo feito com cobaias revela que a edição de um gene pode ajudar a evitar ansiedade e alcoolismo em animais que foram excessivamente expostos ao álcool na adolescência

Manipulação genética pode corrigir ansiedade e dependência do álcool
(Foto: Freepik)

 

Um estudo feito em animais, publicado na revista científica Science Advances na última quarta (4/5), revela que a manipulação genética pode ser um tratamento potencial para o transtorno de ansiedade e uso de álcool em adultos que foram expostos ao alcoolismo na adolescência.

Os cientistas da Universidade de Illinois em Chicago, nos EUA, já haviam descoberto em outras pesquisas que o consumo excessivo de álcool na adolescência altera a química do cérebro na região controlada pelo gene Arc. A reprogramação desse gene, que fica no centro da emoção e da memória no cérebro, contribui para uma predisposição à ansiedade e ao transtorno por uso de álcool na idade adulta.

“Beber compulsivamente desde cedo pode ter efeitos duradouros e significativos no cérebro e os resultados deste estudo oferecem evidências de que a edição de genes é um antídoto potencial para esses efeitos, oferecendo uma espécie de redefinição de fábrica para o cérebro, se você quiser”, afirma o pesquisador Subhash Pandey, um dos autores do estudo, citado pelo site americano de notícias científicas Science Daily.

Os cientistas usaram uma ferramenta de edição de genes chamada CRISPR-dCas9 para manipular o gene Arc em ratos adultos. Primeiro, eles usaram cobaias com exposição intermitente ao álcool na adolescência, correspondendo a humanos de cerca de 10 a 18 anos. Eles observaram que, após a reprogramação genética, os indicadores de ansiedade e consumo de álcool diminuíram, revela o site especializado.

A ansiedade foi medida por meio de testes comportamentais, como a atividade exploratória de ratos colocados em labirinto, e a preferência por álcool foi medida por meio do monitoramento da quantidade de líquido consumido quando as cobaias foram apresentadas a duas garrafas, uma contendo água da torneira e, outra, com água com açúcar e concentrações variadas de álcool (3%, 7% e 9%).

Em um segundo modelo, os pesquisadores estudaram ratos adultos sem exposição precoce ao álcool. Após usar a plataforma para manipulação do gene Arc, a expressão do gene diminuiu e os indicadores de ansiedade e consumo de álcool aumentaram.

“Esses resultados demonstram que a edição epigenômica pode melhorar a psicopatologia do adulto após a exposição ao álcool do adolescente. O consumo excessivo de álcool por adolescentes é um sério problema de saúde pública, e este estudo não apenas nos ajuda a entender melhor o que acontece nos cérebros em desenvolvimento quando eles são expostos a altas concentrações de álcool, mas, mais importante, nos dá esperança de que um dia teremos tratamentos eficazes para o problema”, comenta Pandey ao Science Daily.