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Ciência

Neuralink, do Elon Musk, já teria matado cerca de 1.500 animais na pesquisa do implante cerebral

Por João Paulo Martins  em 07 de dezembro de 2022

Informações obtidas pela Reuters apontam que pressão por prazo e erros humanos seriam responsáveis pelas mortes excessivas de cobaias

Neuralink, do Elon Musk, já teria matado cerca de 1.500 animais na pesquisa do implante cerebral
(Foto: YouTube/Neuralink/Reprodução)

 

A empresa de neurotecnologia Neuralink, de propriedade do bilionário sul-africano Elon Musk, dono da Tesla, SpaceX e Twitter, está sob investigação do governo dos EUA por supostos maus-tratos contra animais após funcionários reclamarem que eram pressionados para acelerarem os experimentos e, com isso, causavam sofrimento e mortes desnecessários às cobaias. Essas informações constam de documentos obtidos pela agência alemã de notícias Reuters.

Na última quarta (30/11), a Neuralink divulgou que está pronta para, em seis meses, implantar chip no cérebro de humanos. A ideia é ajudar pessoas paralisadas a andar novamente e curar outras doenças neurológicas.

A investigação contra a empresa foi aberta nos últimos meses pelo Escritório do Inspetor Geral do Departamento de Agricultura dos EUA a pedido de um promotor federal, segundo duas fontes ouvidas pela agência. O processo, segundo uma das fontes, se concentra em violações da Lei de Bem-Estar Animal, que regulamenta como os pesquisadores devem tratar as cobaias.

De acordo com uma análise da Reuters em dezenas de documentos da Neuralink e entrevistas com mais de 20 representantes atuais e ex-funcionários, muitos experimentos fracassados tiveram que ser repetidos, aumentando o número de animais testados e mortos. Elon Musk e outros executivos da empresa não responderam aos questionamentos da agência alemã.

A lei americana não especifica quantos animais as empresas podem usar para pesquisa e, com isso, acabam permitindo que os cientistas determinem quando e como usar as cobaias nos testes. A Neuralink teve suas instalações aprovadas em todas as inspeções feitas pelo Departamento de Agricultura.

O problema, como mostra a Reuters, é que empresa de neurotecnologia já teria matado cerca de 1.500 animais, incluindo mais de 280 ovelhas, porcos e macacos, como parte dos testes que vêm sendo realizados desde 2018. As fontes ouvidas pela agência afirmam que esse número é uma estimativa aproximada porque a empresa não mantém registros precisos do número de cobaias testadas e mortas. A Neuralink também realizou pesquisas com ratos e camundongos.

Claro que, apesar de significativo, o número de mortes de animais não indica necessariamente que a empresa de Elon Musk estaria violando regulamentos ou os padrões das pesquisas científicas. Muitas empresas fazem experimentos em cobaias para criar produtos voltados à saúde e ao bem-estar humano, enfrentando pressão financeira para lançar no mercado o quanto antes. Normalmente, após a finalização dos testes, os animais são mortos para que possam ser periciados e ajudar em outras pesquisas.

 

Neuralink, do Elon Musk, já teria matado cerca de 1.500 animais na pesquisa do implante cerebral
(Foto: YouTube/Neuralink/Reprodução)

 

Excesso de mortes de cobaias

 

Funcionários atuais e já dispensados da Neuralink dizem que o número de mortes de cobaias é maior do que o necessário devido à pressão feita por Musk para que os testes fossem acelerados. Por meio de documentos da empresa e entrevistas, a Reuters identificou quatro experimentos envolvendo 86 porcos e dois macacos que foram prejudicados por erros humanos. Com isso, os experimentos tiveram que ser repetidos, levando à morte de mais animais. Três pessoas ouvidas pela agência atribuíram os erros à falta de preparo da equipe que trabalhava em um ambiente de “alta pressão”.

No início deste ano, o bilionário sul-africano enviou aos funcionários uma reportagem que falava sobre pesquisadores suíços que desenvolveram um implante elétrico que ajudou um homem paralisado a voltar a andar. “Podemos permitir que pessoas usem as mãos e voltem a andar na vida cotidiana!”, escreveu Elon Musk, citado pela Reuters, às 6h37 de 8 de fevereiro deste ano. Dez minutos depois, ele envia nova mensagem: “Na verdade, simplesmente não estamos trabalhando rápido o suficiente. Isso está me deixando louco!”.

O empresário teria dito, em várias ocasiões ao longo dos anos, que os funcionários deviam imaginar que estavam com uma bomba presa à cabeça, como forma de motivá-los a agir apressadamente.

Cinco funcionários da Neuralink ligados a experimentos com animais afirmam à Reuters que defendem uma abordagem mais tradicional, na qual os pesquisadores testam um elemento de cada vez nas cobaias e tiram conclusões relevantes antes de passar para novos experimentos. Mas, segundo eles, a empresa demanda testes rápidos e consecutivos, sem que haja tempo de corrigir problemas detectados em experimentos anteriores. Não há espaço nem para se tirar conclusões completas. O resultado: mais animais acabam sendo usados e mortos, em parte porque essa abordagem leva a testes repetidos.

A Food and Drug Administration dos EUA, espécie de Vigilância Sanitária, é responsável por revisar os pedidos da empresa para aprovação do dispositivo médico e de testes em humanos. O tratamento que a empresa dá aos animais durante a pesquisa, no entanto, é regulamentado pelo Departamento de Agricultura baseado na Lei de Bem-Estar Animal.