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Ciência

Neuralink já está cadastrando voluntários para testes do implante cerebral que promete até curar cegueira

Por João Paulo Martins  em 08 de fevereiro de 2023

A empresa do controverso bilionário Elon Musk segue com a missão de, em até seis meses, finalizar os testes em humanos do chip cerebral

Neuralink já está cadastrando voluntários para testes do implante cerebral que promete até curar cegueira
(Foto: YouTube/Neuralink/Reprodução)

 

Em abril de 2017, o bilionário sul-africano Elon Musk disse que, em poucos anos, sua empresa de biotecnologia Neuralink conseguiria fabricar implantes de alta tecnologia para tratar danos cerebrais graves, como paralisia e cegueira. Agora, a empresa americana quer usar os chips cerebrais em testes com humanos em até seis meses, revela a agência russa de notícias Sputnik.

“Queremos ser extremamente cuidadosos e certos de que funcionará bem, antes de colocar um dispositivo em um ser humano”, disse Musk durante o evento Neuralink Show and Tell, em dezembro de 2022. “Já enviamos a maioria dos documentos necessários para a Food and Drug Administration [FDA, espécie de Anvisa dos EUA]. Achamos que, provavelmente, em cerca de seis meses poderemos ter nosso primeiro neurolink em um ser humano”, completa o controverso empresário.

A Neuralink já está recebendo inscrições de voluntários para os testes clínicos. De acordo com informações presentes no site da empresa, para se inscrever, o voluntário deve ter, pelo menos, 18 anos (ser maior de idade), residir nos EUA e apresentar uma das seguintes condições associadas ao cérebro: quadriplegia (paralisia ou fraqueza severa em todos os quatro membros), paraplegia (paralisia em, pelo menos, dois membros), perda de visão, surdez ou afasia (incapacidade de falar).

A empresa já vem trabalhando no aperfeiçoamento de um biochip capaz de transmitir sinais cerebrais, permitindo o controle direto de dispositivos eletrônicos por meio de ondas cerebrais. Além dessa função, de acordo com Elon Musk, o implante permitirá controlar hormônios, restaurar funções motoras e até “tratar” a cegueira. Por enquanto, os testes estão sendo realizados em animais, como macacos, que foram capazes de jogar Pong usando a mente. O problema é que a Neuralink vem enfrentando críticas de entidades ambientalistas que a acusam de ter matado cerca de 1.500 animais durante a pesquisa do chip cerebral.

De acordo com as informações fornecidas no evento de dezembro do ano passado, aquecimento e compatibilidade do implante estavam entre as maiores preocupações da FDA. Para resolvê-los, a equipe da Neuralink teve que redesenhar alguns elementos centrais da estrutura do chip, explica a Sputnik. Em julho de 2020, o produto recebeu o status de inovador por parte da Vigilância Sanitária dos EUA.

A Neuralink foi cofundada em 2016 por Elon Musk, pelo engenheiro biomédico Max Hodak e o engenheiro de computação Paul Merolla, que então contrataram o primeiro grupo de especialistas em diversas áreas. Em janeiro de 2022, porém, apenas dois dos oito cientistas iniciais permaneciam na empresa.

Muitos especialistas criticam a empresa afirmando que as promessas da Neuralink são exageradas. Os apoiadores, por outro lado, argumentam que, embora algumas coisas demonstradas pela empresa já tenham sido realizadas em laboratório, o trunfo de Musk seria a visibilidade e o investimento que proporcionou às start-ups de neurotecnologia.

No entanto, como mostra a agência russa de notícias, no ano passado, a ONG Comitê de Médicos em prol da Medicina Responsável, que reúne mais de 17.000 médicos, entrou com uma ação contra a Universidade da Califórnia em Davis, nos EUA, cujos laboratórios foram usados por funcionários da Neuralink de 2017 a 2020 para experimentos com animais, dizendo que as cobaias “sofreram infecções dos eletrodos implantados em seus cérebros” e pela substância experimental conhecida como BioGlue, um tipo de hidrogel que “matou macacos destruindo partes de seus cérebros”. A universidade recebeu US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 7,2 milhões) de Elon Musk pelo aluguel de suas instalações.

A instituição de ensino enviou à ONG documentos detalhando oito experimentos envolvendo macacos que tiveram implantes colocados no cérebro por meio de eletrodos. Casos de macacos “vomitando repetidamente, engasgando e tendo pouca interação com o ambiente/observadores” após a cirurgia, além de apresentarem “cabeça sangrando e sangue seco ao redor da base do implante craniano” foram listados nos documentos, revela a Sputnik.