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Ciência

Pegadas de 6,05 milhões de anos na Grécia seriam de nova espécie humana?

Por João Paulo Martins  em 22 de outubro de 2021

Estudo aponta que as impressões deixadas numa praia da ilha de Creta e descobertas em 2002 podem ter sido feitas por um hominídeo que viveu na Europa durante o período Mioceno

Pegadas de 6,05 milhões de anos na Grécia seriam de nova espécie humana?
As pegadas de 6,05 milhões de anos da ilha de Creta, na Grécia, estão sendo associadas a um possível hominídeo que viveu na Europa (Foto: Per Ahlberg/Uppsala University/Divulgação)

 

Um novo estudo revela que as supostas pegadas humanas encontradas em 2002 na ilha de Creta, na Grécia, possuem cerca de 6,05 milhões de anos. Caso isso seja confirmado pela comunidade científica, poderia reescrever a história da evolução humana.

De acordo com o artigo publicado dia 11 de outubro na revista científica Scientific Reports, as 50 pegadas originalmente datadas de 5,7 milhões de anos, numa estimativa proposta por cientistas em 2017, podem ser 300.000 anos mais velhas.

Como mostra a revista americana Smithsonian Magazine, as pegadas teriam sido deixadas por hominídeos e contrariam a compreensão dos cientistas sobre como os primeiros humanos evoluíram, movendo o ponto de partida do grupo da África para o Mar Mediterrâneo.

Os pesquisadores, citados pela revista, dizem que é possível que a criatura bípede que fez as marcas no solo fosse membro da espécie Graecopithecus freyberg, um ancestral humano descoberto em 1944 e apelidado de “El Graeco”, mas que ainda gera controvérias entre especialistas.

“As pegadas são quase 2,5 milhões de anos mais velhas do que as atribuídas ao Australopithecus afarensis de Laetoli na Tanzânia”, comenta o pesquisador Uwe Kirscher, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, um dos autores do estudo atual, citado pela Smithsonian Magazine.

Na pesquisa publicada em 2017, o cientista ambiental e geógrafo Matthew Robert Bennett, da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido, citado pela revista americana, disse que as pegadas eram pequenos rastros feitos por alguém que caminhava ereto sobre duas pernas.

Segundo ele, as impressões têm uma forma muito semelhante a rastros humanos, incluindo “cinco dedos sem garras e um dedão paralelo”.

“As pegadas dos macacos não humanos parecem muito diferentes. O pé tem o formato de uma mão humana, com o dedão preso na parte lateral da sola e saindo lateralmente”, afirma o cientista na época, citado pela Smithsonian Magazine.

 

Nova espécie humana?

 

Nem todos os cientistas concordam com as afirmações do estudo recém-publicado. Em especial que se trata da espécie Graecopithecus freyberg. Para o antropólogo e biólogo Israel Hershkovitz, da Universidade de Tel Aviv, em Israel, citado pela revista, as pegadas teriam sido deixadas por um macaco europeu já extinto.

“Tudo o que temos da Europa é um grupo de macacos pré-humanos. Eles são interessantes e atestam condições climáticas muito mais favoráveis [durante o final do período Mioceno]. Mas não acho que estejam direta ou indiretamente associados à evolução humana”, comenta o cientista.

As controversas pegadas foram descobertas em 2002 numa praia próxima à vila de Trachilos, em Creta, pelo paleontólogo Gerard Gierliński, que estava passando férias na região, conta a revista americana.

Os responsáveis pelas impressões as deixaram em depósitos de sedimentos ligados ao final do período Mioceno, quando o Mar Mediterrâneo secou temporariamente, explica a Smithsonian Magazine.

Os pesquisadores usaram técnicas de datação por foraminíferos, micro-organismos marinhos fossilizados encontrados em rochas sedimentares, e descobriram que as pegadas são de 6,05 milhões de anos atrás.

Vale lembrar que, até hoje, o ancestral mais antigo do ser humano é o Australopithecus afarensis, categorizado a partir de ossos descobertos na Tanzânia em 1974 e que receberam o nome de “Lucy”.

Já os humanos modernos (Homo sapiens) evoluíram há cerca de 300.000 anos. A espécie inclui genes de uma linha agora extinta de hominíneos conhecida como Homo neanderthalensis, que apareceu pela primeira vez há cerca de 430.000 anos.