Ciência
Pela 1ª vez, cientistas testemunham aranha do mar regenerando metade do corpo amputado
Em vez de recuperar apenas membros, a espécie marinha foi capaz de gerar toda a estrutura inferior do corpo
Cientistas ficaram surpresos ao descobrir que aranhas marinhas (Pycnogonum litorale) são capazes de se regenerar e desenvolver metade do corpo perdido, incluindo novos órgãos reprodutivos e ânus. As descobertas foram publicadas na última segunda (23/1) na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
Já se sabia que, quando algumas espécies de artrópodes quando perdem as pernas, podem regenerá-las. Mas no caso da aranha marinha, o que surpreendeu foi a capacidade de reconstruir toda a metade inferior do corpo.
Outros artrópodes, que são animais invertebrados sem espinha dorsal, mas que possuem exoesqueleto, como centopeias e caranguejos, também são capazes de regenerar membros. Algumas criaturas podem ir além, com estrelas do mar capazes de recuperar todo o corpo de vez em quando, e lagartixas que podem perder a cauda e gerar uma nova.
“Se você olhar para o reino animal, a capacidade de regeneração difere muito entre os diversos grupos de animais. Os platelmintos [tipo de verme], por exemplo, podem regenerar todo o corpo a partir de uma quantidade limitada de tecido. Por outro lado, nós, mamíferos, não podemos regenerar muito, apenas fígado, tecido e pele. Nos artrópodes, como crustáceos, insetos, miriápodes e algumas aranhas, era totalmente desconhecido que pudessem regenerar outras partes do corpo além dos membros”, explica o pesquisador Gerhard Scholtz, da Universidade Humboldt de Berlim, na Alemanha, principal autor do estudo, em entrevista à emissora britânica Sky News.
A pesquisa recém-divulgada acompanhou a regeneração de membros traseiros e dorsais de 23 aranhas marinhas amputadas. Enquanto em quatro indivíduos mais velhos não houve recuperação da área perdida, em 19 jovens foi registrado o crescimento da área, revela a emissora.
Dezesseis deles regeneraram, pelo menos, uma parte perdida do corpo, enquanto 14 recuperaram a parte posterior e 90% conseguiram sobreviver por um bom tempo, apesar das amputações.
Cientistas acreditavam que o exoesqueleto rígido das aranhas impedia qualquer regeneração além dos membros, afirma Scholtz. Mas o estudo descobriu que as criaturas marinhas eram capazes de recriar partes do corpo em “várias semanas ou meses”.
Ainda assim, nem todas as regenerações foram bem sucedidas. Algumas aranhas ficavam com uma ou duas pernas a menos.
Segundo Gerhard Scholtz diz à Sky News, as descobertas devem inspirar a realização de novos estudos em diferentes espécies. “É preciso olhar para outros artrópodes e ver se podem fazer o mesmo”.
Ele planeja acompanhar a capacidade de regeneração em insetos, caranguejos e outros crustáceos.
Esse tipo de pesquisa pode ser transformador em relação à saúde humana, inclusive gerando tratamentos para pessoas amputadas.
“Não acho que as aranhas marinhas desempenharão um papel crucial, mas quem sabe? Quanto mais você entende de regeneração no reino animal, maior será a capacidade de usá-la em tratamentos médicos”, completa o cientista alemão.