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Ciência

Quem disse que as girafas são animais solitários?

Por João Paulo Martins  em 04 de agosto de 2021

Estudo revela que as girafas formam relações sociais complexas e valorizam até a figura da avó

Quem disse que as girafas são animais solitários?
(Foto: Freepik)

As girafas (Giraffa camelopardalis) são animais fascinantes e costumam ser associadas à “solidão”. Mas uma nova pesquisa da Universidade de Bristol, no Reino Unido, publicada na última terça (3/8) na revista científica Mammal Review, sugere que elas sempre foram mal interpretadas e que, na verdade, são uma espécie altamente complexa e social.

“Demorou até 2021 para reconhecer que as girafas têm um sistema social complexo. Há décadas sabemos de outros mamíferos socialmente complexos, como elefantes, primatas e cetáceos [baleias], mas é desconcertante como uma espécie tão carismática e conhecida como a girafa pode ter sido tão pouco estudada”, comenta a bióloga Zoe Muller, coautora do estudo, em entrevista para a emissora americana CNN.

Na revisão de 404 artigos científicos, junto ao colega Stephen Harris, ela descobriu que as girafas parecem ter uma sociedade matrilinear (cuja ascendência é materna).

As fêmeas mantêm relacionamentos de longo prazo com outras e seus próprios filhos, segundo o estudo. Laços estreitos se formam entre as girafas e suas proles, que às vezes são cuidadas por outras fêmeas numa espécie de creche – que ficam até “angustiadas” quando um filhote do grupo morre.

Os machos, no entanto, só se associam de forma consistente com suas mães, revelam os cientistas.

Uma melhor compreensão do comportamento das girafas pode ajudar nos esforços para garantir sua sobrevivência. O número desses belos e admirados animais diminuiu 40% desde 1985, de acordo com o estudo, e a espécie está listada como vulnerável na União Internacional para a Conservação da Natureza.

Importância da avó

Um dos pontos mais curiosos da pesquisa realizada pela Universidade de Bristol é a hipótese da avó: ideia de que algumas girafas sobrevivem muito além de seus anos reprodutivos para garantir que seus netos prosperem. Esse comportamento só foi observado em algumas espécies, como orcas, elefantes e, claro, seres humanos.

Os pesquisadores descobriram que as girafas fêmeas passam até 30% de suas vidas “num estado pós-reprodutivo”. Isso se compara aos elefantes, que passam 23%, e as orcas, que gastam 35% de suas vidas nesse estado.

“Minha sugestão é que as ‘avós’ das girafas provavelmente desempenham um papel importante na sobrevivência dos membros do grupo. Elas devem ser repositórios de conhecimento para o grupo, mas também desempenham um papel importante na criação das crianças e na educação dos jovens”, diz Zoe Muller à CNN.

Ainda segundo a bióloga, mais pesquisas são necessárias para entender o papel que as girafas mais velhas (vivem até 30 anos) desempenham na sociedade que formam e quais os benefícios que isso pode trazer para a sobrevivência de seus descendentes.