Ciência
Rapamicina: cientistas testam se medicamento pode aumentar a expectativa de vida de cães e, em breve, também de humanos
O remédio é normalmente usado por transplantados para evitar rejeição, e já mostrou efeitos benéficos na longevidade de cobaias
Imagine poder viver mais tempo com seu cachorro? Essa é a ideia por trás do projeto americano Dog Aging Project, um estudo de vários anos com a participação de centenas de cães idosos, que testa se o medicamento imunossupressor rapamicina, usado em pessoas transplantadas para evitar a rejeição do órgão, pode ajudar na longevidade dos animais.
Como mostra o site americano Insider, durante o projeto, os pesquisadores também avaliarão se o remédio pode ajudar os cachorros velhos a se manterem mais saudáveis à medida que envelhecem. Se a pesquisa for bem-sucedida, poderá ser adaptada para os humanos. Cientistas esperam que a rapamicina possa ser uma espécie de fonte da juventude em forma de pílula: uma droga antienvelhecimento que ajude pessoas e animais de estimação a viverem mais tempo e de forma saudável.
Até agora, mais de 85 cães estão envolvidos no estudo formalmente chamado Test of Rapamycin in Aging Dogs (Triad ou Teste de Rapamicina em Cachorros Idosos), que está sendo realizado nos estados americanos do Texas e Colorado e, em breve, na Califórnia. Os testes estão sendo liderados pelos especialistas em longevidade Daniel Promislow e Matt Kaeberlein, da Universidade de Washington (EUA), e pela veterinária Kate Creevy, da Universidade Texas A&M (EUA).
Segundo o Insider, a expectativa é que, até 2025, 580 cães sejam incluídos no estudo, que deve ser concluído até 2028. Além de consumirem o medicamento, que é extraído da bactéria Streptomyces hygroscopicus, os animais realizarão exames de sangue, urina e fezes, além de terem medida regularmente a pressão sanguínea.
Como o estudo é duplo-cego, nem os tutores nem os pesquisadores sabem a dose e se o cão está ingerindo medicamento ou placebo. Dessa forma, os cientistas esperam descobrir o real efeito da rapamicina.
A substância tem sido usada há décadas em humanos que recebem transplante de rim. Mais recentemente, a indústria farmacêutica descobriu que ela também pode ajudar a tratar certos tipos de câncer resistentes, impedindo a reprodução das células cancerosas, revela o site americano. Ele ajuda a suprimir áreas do sistema imunológico para retardar o crescimento do tumor e estimular um processo de limpeza celular no organismo.
Pesquisadores também já demonstraram que a rapamicina ajuda a aumentar a longevidade de moscas-das-frutas, vermes, camundongos e pulgas d'água, afirma o Insider. Mas os efeitos em cães idosos – e em pessoas idosas – ainda é um mistério. Sem falar que o medicamento não é isento de efeitos colaterais sérios: como ele suprime o sistema imunológico, pacientes que tomam a droga às vezes desenvolvem feridas na boca e podem demorar a cicatrizar feridas e cortes.
É por isso que os pesquisadores estão estudando o efeito da rapamacina primeiro nos cães, antes de passar para testes clínicos mais amplos em humanos.