Ciência
Tal qual Virgem Maria? Cientistas fazem mosca dar à luz sem inseminação
Estudo publicado nesta sexta (28/7) traz drosófilas modificadas para se reproduzirem sem presença de machos
Gerar filho sendo virgem parece história retirada da Bíblia, mas em estudo publicado nesta sexta (28/7), no periódico científico Current Biology, cientistas conseguiram fazer com que drosófilas, ou moscas-das-frutas (Drosophila melanogaster), produzissem filhotes sem necessidade de machos.
Segundo o jornal britânico The Guardian, após identificar o gene que permite que uma espécie de drosófila dê à luz sem que seus óvulos sejam fertilizados por espermatozoides, os pesquisadores modificaram geneticamente outra espécie, que normalmente se reproduz sexualmente, para que gerasse filhotes mesmo sendo “virgem”.
“Somos os primeiros a mostrar que é possível projetar nascimentos virgens em um animal – foi muito emocionante ver uma mosca virgem produzir um embrião capaz de se desenvolver até a idade adulta e, em seguida, repetir o processo”, afirma a pesquisadora Alexis Sperling, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, principal autora do estudo, citada pelo jornal.
Para chegar a essa façanha, os cientistas trabalharam durante seis anos e utilizaram 220.000 drosófilas. Primeiro eles analisaram a espécie chamada Drosophila mercatorum, que é capaz de se reproduzir sem necessidade de machos – por meio da partenogênese.
Ao sequenciar o genoma da mosca que não necessita de fecundação e identificar o gene, os pesquisadores conseguiram achar o gene correspondente na Drosophila melanogaster (mosca-da-fruta comum) e alterá-lo, deixando-o ativo.
Como mostra o The Guardian, o estudo descobriu que as moscas fêmeas geneticamente manipuladas geralmente ficavam cerca de 40 dias esperando um macho aparecer para o acasalamento, antes de partir para o parto virgem.
Os descendentes dessas drosófilas foram capazes de se reproduzir tanto pela fecundação quanto pela partenogênese.
Para Alexis Sperling, mudar para o parto virgem pode ser muito benéfico para a espécie, especialmente para fêmeas que vivem isoladas. Mas ela alerta que foi identificado um fator negativo: indivíduos que nascem de fêmeas virgens podem ser menos capazes de se adaptar à seleção natural.
Ao jornal britânico, a cientista explica que, embora o estudo recém-publicado tenha encontrado uma maneira de induzir fêmeas de moscas a parirem mesmo sendo virgens, é improvável que a abordagem funcione em outros animais, como os mamíferos, apesar de a partenogênese ter sido observada em lagartos e abelhas, por exemplo.
Isso porque os mamíferos precisam do DNA do pai e da mãe para serem formados, enquanto o genoma paterno é dispensável em espécies que podem ter nascimentos virgens.