Ciência
Teste com peixe-zebra mostra que hibernação pode ajudar astronautas
Pesquisadores induziram o torpor nas cobaias, que apresentaram efeito protetor contra os danos da radiação prolongada
Muitos animais utilizam a hibernação como forma fisiológica de enfrentar condições adversas, como escassez de alimentos e baixas temperaturas. Conseguir replicar o torpor em humanos pode proteger astronautas contra os desafios de um voo espacial prolongado, incluindo exposição à radiação, desgaste ósseo e muscular, envelhecimento e problemas vasculares.
Pesquisadores acreditam que, se os astronautas hibernarem durante a viagem, como uma futura missão a Marte, essas dificuldades podem ser resolvidas. Para tanto, um estudo publicado dia 14 de abril na revista científica Cells avaliou os efeitos de certas condições em peixes-zebras (Danio rerio) que foram colocados para hibernar.
“A Nasa planeja retornar à Lua e seguir para Marte nos próximos anos. Avanços tecnológicos recentes tornaram as viagens espaciais mais acessíveis; no entanto, os voos de longo prazo são incrivelmente prejudiciais à saúde humana”, comenta o pesquisador Gary Hardiman, da Universidade Queen's de Belfast, no Reino Unido, principal autor do estudo, citado pelo site da instituição de ensino.
Segundo ele, a pesquisa analisou se o torpor induzido é uma alternativa viável aos efeitos nocivos das viagens espaciais. Se os humanos pudessem replicar um modelo semelhante de hibernação observada no peixe-zebra, aumentariam as chances de transformar nossa espécie em “viajante do espaço”.
“Por exemplo, isso levaria à redução da função cerebral, o que reduziria o estresse psicológico. A mudança no metabolismo reduziria a necessidade de comida, oxigênio ou água e há a possibilidade de proteger os músculos do desgaste devido aos efeitos causados pela radiação e microgravidade”, explica o pesquisador.
Estudando os benefícios da hibernação
No estudo recém-publicado, os cientistas colocaram o peixe-zebra (que é muito usado em testes de laboratório) em contato com a mesma quantidade de radiação que os astronautas experimentariam numa viagem de seis meses a Marte. Os resultados apontam estresse oxidativo, aumento do cortisol (hormônio do estresse) e interrupção do ciclo celular dentro das cobaias.
Pesquisadores então induziram um segundo grupos de peixes-zebras à hibernação e, em seguida, os expuseram à mesma dose de radiação, analisando os padrões de expressão gênica para avaliar os efeitos protetores durante esse estado induzido de inatividade física e mental.
Os resultados apontam que o torpor reduziu a taxa metabólica nas cobaias e criou uma proteção contra os efeitos nocivos da radiação.
“Nossos resultados revelam que, enquanto em torpor induzido, o peixe-zebra mostrou que a redução no metabolismo e a concentração de oxigênio nas células promove menos estresse oxidativo e maior resistência à radiação”, diz o pesquisador Thomas Cahill, também da Universidade Queen’s de Belfast, um dos autores do estudo, citado pelo site da instituição.