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Cultura

Inglaterra proíbe cabeceio no futebol para crianças menores de 12 anos

Por João Paulo Martins  em 19 de julho de 2022

Intenção é evitar danos futuros ao cérebro, como surgimento de demência

Inglaterra proíbe cabeceio no futebol para crianças menores de 12 anos
(Foto: Pixabay)

 

A Inglaterra é o primeiro país europeu a proibir o cabeceio no futebol infantil. A justificativa, segundo o jornal britânico The Telegraph, é evitar supostos danos na cabeça que podem levar a doenças neurológicas.

Conforme o jornal, uma pesquisa de 2019 realizada pela Universidade de Glasgow, no Reino Unido, descobriu que ex-jogadores profissionais de futebol tinham 3,5 vezes mais chance de morrer por demência do que o resto da população.

Metade da seleção inglesa que venceu a Copa do Mundo de 1966 foi diagnosticada com demência. A incidência não reduziu, já que a condição neurodegenerativa vem sendo identificada nos atletas desde a criação da Premier League (Campeonato Inglês) em 1992.

A Associação de Futebol da Inglaterra (Football Association ou FA) emitiu um comunicado na última segunda (18/7) informando que está valendo o teste de proibição de cabeceio entre jogadores abaixo de 12 anos. A medida vale para a temporada 2022-2023.

“Se o teste for um sucesso, o objetivo é remover o cabeceio deliberado de todos os jogos de futebol no nível Sub-12 e abaixo dele, na temporada 2023-2024. Essa etapa fará com que as partidas dessas faixas etárias estejam alinhadas com nossa orientação atual de cabeceio em treinamentos, que já recomenda a eliminação ou restrição do uso da cabeça”, diz a entidade inglesa em seu site oficial.

A FA também recomenda que adultos não devem praticar mais de 10 cabeceios por semana, embora isso se aplique apenas ao uso da cabeça em jogadas de “alto impacto” de longa distância em jogos profissionais, revela o The Telegraph.

A decisão da FA de retirar o cabeceio das partidas de futebol de crianças abaixo de 12 anos vem após os Estados Unidos terem tomado medidas semelhantes.

O processo começou após a aprovação pelo Conselho da Associação Internacional de Futebol (International Football Association Board), responsável pelas regras do esporte, do teste de remoção do cabeceio em partidas sub-12 a partir do início da próxima temporada (2022-2023).

A Associação de Futebol da Inglaterra afirma que deseja “ajudar a mitigar quaisquer riscos potenciais que possam estar ligados ao cabeceio, incluindo lesões com choque entre cabeça e cabeça, cotovelo e cabeça e contato da cabeça com o solo”. Ainda conforme a entidade, a decisão “representa uma abordagem cautelosa para jogar e desfrutar do futebol enquanto continua sendo feita pesquisa nessa área”.

Segundo a neurocientista cognitiva Magdalena Ietswaart, da Universidade de Stirling, no Reino Unido, em entrevista ao The Telegraph, há evidências de microdanos e mudanças estruturais no cérebro devido ao cabeceio, bem como uma série de reações químicas e liberação de proteínas que são evidentes no sangue.

“Acho que não dá mais para dizer que não há nada acontecendo. Há evidências diretas. Nossa pesquisa envolve o futebol moderno. O cérebro se desenvolve até os 23 anos, e é a parte frontal do cérebro que está absorvendo esses golpes. Ele só está completamente formado entre os 14 e o início dos 20 anos”, comenta a especialista.