Alguns anti-inflamatórios usados a curto prazo podem causar dor crônica após um tempo

O uso de ibuprofeno e anti-inflamatórios esteroides (corticoides) para aliviar problemas de saúde a curto prazo pode aumentar as chances de aparecimento de dor crônica, sugere estudo publicado na última quarta (11/5) no periódico científico Science Translational Medicine.

Uma lesão dolorosa costuma gerar inflamação (reação natural do corpo ao ferimento e à infecção) e tratar o problema com medicamentos pode levar a problemas mais difíceis, sugerem os cientistas. Como mostra o jornal britânico The Guardian, uma hipótese é que a inflamação tenha efeito protetor, como se evitasse que a dor aguda se tornasse crônica.

“Embora o ibuprofeno não tenha sido estudado explicitamente em humanos ou camundongos [estes receberam diclofenaco], já que o ibuprofeno é tão comum no Reino Unido, é altamente provável que uma grande porcentagem dos participantes do Biobank [banco de dados] do Reino Unido relataram tomar anti-inflamatórios não esteroides, mas estivessem de fato tomando ibuprofeno”, comenta o pesquisador Jeffrey Mogil, da Universidade McGill, no Canadá, um dos autores do estudo, citado pelo jornal britânico.

Para entender a transição de dor lombar aguda para crônica, os pesquisadores acompanharam 98 pacientes com dor lombar aguda por três meses. Eles também examinaram os mecanismos da dor em humanos e camundongos e descobriram que os neutrófilos (tipo de glóbulo branco do sistema imunológico) desempenham um papel fundamental na resolução da dor, revela o The Guardian.

O bloqueio dessas células em camundongos prolongou a dor por até 10 vezes. O tratamento com anti-inflamatórios e esteroides, como dexametasona e diclofenaco, também produziu o mesmo resultado, embora desde o início tenham sido eficazes contra a dor.

Os cientistas também analisaram dados de 500.000 voluntários que participam do estudo britânico Biobank e aqueles que tomavam anti-inflamatórios eram mais propensos a ter dor de dois a 10 anos depois. Esse efeito não foi observado em pessoas que tomavam paracetamol ou antidepressivos.

A pesquisa recém-publicada descobriu ainda que a dor lombar foi a reação crônica (persiste por mais tempo) mais comum relatada pelos voluntários e resultou em mais gasto com consultas médicas.

A maioria dos pacientes recebe tratamentos padrão, com anti-inflamatórios não esteroides, incluindo ibuprofeno. Mas, como de acordo com o The Guardian, esses medicamentos são pouco eficazes e não há informação suficiente sobre por que a dor aguda, que começa subitamente, melhorar em alguns pacientes, mas persiste como dor crônica em outros.