Saúde
Apenas um antibiótico ainda é 100% eficaz contra a bactéria causadora da febre tifoide
Estudo revela que a Salmonella enterica sorovar Typhi se tornou resistente a inúmeros medicamentos, incluindo ampicilina e fluoroquinolonas
A febre tifoide é uma condição de saúde associada a regiões menos desenvolvidas do mundo, especialmente quando não há saneamento básico adequado. Ela existe há milênios e, segundo estudo publicado no periódico científico Microbe, na última terça (21/6), a bactéria que causa a doença está sofrendo mutações que são resistentes aos antibióticos.
Cientistas analisaram os genomas de 3.489 variantes da bactéria Salmonella enterica sorotipo Typhi (S. Typhi) de amostras retiradas de 2014 a 2019 no Nepal, Bangladesh, Paquistão e Índia. Segundo o site americano Science Alert, o micro-organismo não se tornou imune apenas a antibióticos tradicionais, amplamente usados, como ampicilina, cloranfenicol e trimetoprim/sulfametoxazol, mas também a remédios novos, como fluoroquinolonas e cefalosporinas.
Pior ainda, essas cepas estão se espalhando globalmente em ritmo acelerado. Embora a maioria dos casos da S. Typhi modificada tenha origem no sul da Ásia, os pesquisadores identificaram quase 200 casos de disseminação internacional desde 1990.
A maioria das variantes foi exportada para o Sudeste Asiático, bem como para o leste e sul da África, mas as superbactérias da febre tifoides também foram encontradas no Reino Unido, Estados Unidos e Canadá.
“A velocidade com que cepas altamente resistentes da S. Typhi surgiram e se espalharam nos últimos anos é um motivo real de preocupação e destaca a necessidade de expandir urgentemente as medidas de prevenção, principalmente nos países de maior risco”, sugere o pesquisador Jason Andrews, da Universidade de Stanford (EUA), um dos autores do estudo, citado pelo Science Alert.
A S. Typhi resistente a antibióticos foi identificada pela primeira vez em 2016, no Paquistão. Em 2019, tornou-se o tipo dominante no país. Normalmente, a maioria das cepas modificadas foi combatida com os remédios modernos, como quinolonas e cefalosporinas. Porém, no início dos anos 2000, as mutações associadas à resistência às quinolonas representavam mais de 85% de todos os casos em Bangladesh, Índia, Paquistão, Nepal e Cingapura. Ao mesmo tempo, a resistência às cefalosporinas também estava tomando conta, revela 1o site americano.
Hoje, resta apenas um antibiótico oral para febre tifoide: a azitromicina. O problema é que sua eficácia pode não durar por muito tempo.
O novo estudo descobriu que mutações que conferem resistência à azitromicina também estão se espalhando, “ameaçando a eficácia de todos os antimicrobianos orais para o tratamento da febre tifoide”, dizem os cientistas, citados pelo Science Alert.
Se não for tratada, até 20% dos casos de febre tifoide podem ser fatais e, atualmente, surgem 11 milhões de casos da doença todos os anos.